terça-feira, 9 de abril de 2013

Massacre do Carandiru segue e seguirá impune


No dia 2 de outubro de 1992 dois presos de facções criminosas rivais participavam de um jogo de futebol no pavilhão 9 do Carandiru. Os dois se estranharam durante o jogo e começaram a brigar. A briga foi levada adiante para os corredores do pavilhão e os demais presos resolveram tomar partido de um ou de outro.
O resultado foi uma briga generalizada, com facas e pedaços de pau e ferro. Em meio à confusão os funcionários deixaram o local e avisaram o diretor do presídio de que estava acontecendo uma rebelião. O pavilhão 9 era onde ficavam os novatos do presídio.
“A inexperiência dos que se achavam detidos no 9, entretanto, foi causadora de um erro primário: não fizeram reféns; deixaram os funcionários sair do pavilhão.”
Dráuzio Varella
{{Acredite, esta é uma das imagens mais leves sobre o massacre}}
{{Acredite, esta é uma das imagens mais leves sobre o massacre}}
À época tentou-se de toda maneira esconder o ocorrido. Não por acaso as manchetes só chegaram aos jornais no dia 4 de outubro. Não por acaso as eleições haviam ocorrido no dia 3 de outubro. À época não havia redes sociais, ficava mais fácil atrasar as notícias.
veja
estadao
folha
O presídio do Carandiru, antes de 1992, já havia passado por diversas rebeliões. Nunca se viu tamanho massacre. E se o tempo que passou ajuda a esquecer também ajuda a compreender melhor o contexto do objeto que se estuda, diriam os historiadores.
Pois bem, dia 2 de outubro de 1992 era véspera de eleição. Não existe data mais imprópria para uma rebelião do que a véspera do dia em que seu partido disputa uma eleição {{certo, Fleury?}}. Mas, já que o fato é dado, o melhor a fazer é encerrar a rebelião o mais breve possível, de modo a reduzir os danos eleitorais {{certo, Fleury?}}.
Então invade-se o local, extermina-se os culpados. Fim da história. Entre uma coisa e outra você nega, tenta despistar a imprensa, enfim, faz o possível para que tudo saia como você ‘não-planejou’ {{não é isso, Fleury?}}.
Mas, seu Caipira safado e maluco, por que demônios citar tanto esse tal Fleury? É perseguição sua??
É. Uma perseguição pessoal. Só que não.
Pois se o comandante das operações era o Comandante Ubiratan, o governador era Fleury. E recuso-me a acreditar que um comandante da PM faria tal invasão, armado ou não, sem a anuência do governador, do secretário de segurança pública, enfim, das autoridades responsáveis.
Sobre isso diz Varella:
Imaginar que a ordem tenha partido do coronel é menosprezar a inteligência alheia: um policial jamais tomaria uma iniciativa daquelas sem consultar seus superiores.
De fato, uma coisa que milico gosta é hierarquia. Então vejamos algumas reportagens à época:
fleury
{{Jornal do Brasil, 4 de outubro de 1992}}
Screenshot_1
identificação
{{folha de São Paulo, 4 de outubro de 1992}}
É difícil acreditar que paus e facas sejam motivos para se fuzilar alguém. E, segundo sobrevivente {{no vídeo linkado abaixo}}, preso não é burro. Armado de faca não enfrenta fuzil {{me parece um argumento convincente}}. Os policiais teriam entrado cantando:
E o Fleury, afinal, onde estava durante o ocorrido ? Estava em Sorocaba, conforme reportagem da Veja. O interessante é notar algumas coincidências sobre o fato, que coloco abaixo. A reportagem é da revista Veja, na edição de 5 de abril:
Fleury_veja_completo
{{clica que aumenta}}
Interessante pensar no fato. Qual sinal maior de falta de caráter: Receber um telefonema da Secretaria de Governo e não ficar sabendo da rebelião {{conforme alega Fleury}} ou receber o telefonema e autorizar o massacre? É quase uma escolha de Sofia. Só que ao contrário.
Mais interessante ainda é ver como os fatos transcorreram. O Coronel Ubiratan foi condenado, depois absolvido e depois… Assassinado. Uma pulga manda eu reler a reportagem da Veja. E lá descubro:
fleury_nos_traiu
Não, não estou afirmando nada. Estou apenas colocando os fatos. Coronel Ubiratan foi mesmo assassinado {{não acredite em mim}}, e, segundo a Veja, disse mesmo que Fleury o traiu.
Espero não morrer por escrever isso.
Hoje, vinte anos depois, o caso começa a ser julgado. Os PMs sentarão no banco dos réus. Nenhum exame de balística foi feito nos detentos mortos, sendo, portanto, impossível identificar quais dos PMs executaram presos. Parece-me injusto condenar todos os PMs pelos crimes, posto que nem todos atiraram. Parece-me injusto não condenar os que atiraram.
Fato é que estavam apenas cumprindo ordens. Ainda que, por ventura, tenham gostado do expediente de matar e tenham exagerado, é simplesmente absurdo considerar que qualquer policial, mesmo os de posto mais alto, tenha tomado a decisão sem consultar o governo do estado. Seja por meio da secretaria, seja diretamente com o governador.
Nenhum agente do estado será condenado. Porque nenhum deles é réu no processo.
O Massacre do Carandiru segue e seguirá impune. E ainda há quem ache que o Engenhão nos cause vergonha internacional.

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